Projeto leva energia solar a aldeias indígenas no RS

Iniciativa promove autonomia energética e propõe novo olhar sobre inclusão indígena no setor
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CANAL SOLAR - Projeto leva energia solar a aldeias indígenas no RS
Foto: João Mattos/Divulgação

A instalação de sistemas fotovoltaicos em aldeias indígenas no Rio Grande do Sul é uma inovação que marca a nova fase do “Projeto Ar, Água e Terra”, conduzido pelo IECAM (Instituto de Estudos Culturais e Ambientais). Na aldeia de Teko’a Anhetenguá, em Porto Alegre (RS), um dos momentos mais marcantes foi a reação de José Verá, uma liderança local, ao ver a usina em funcionamento.

“Foi emocionante ver a alegria e a gratidão do Seu José Verá, liderança indígena, um sábio, vendo o sistema funcionar, querendo conhecer, entender. Eles não vão mais ficar sem energia, pois já ficaram duas semanas sem comunicação, sem internet, sem celular”, relatou Denise Wolf, presidente do IECAM e coordenadora do projeto.

Segundo ela, o objetivo vai além da instalação técnica, é também uma ação educativa. A iniciativa busca despertar nos Guarani o entendimento sobre energia solar como pauta de políticas públicas, mostrando que esse modelo pode ser ampliado para cada família, casa ou comunidade, desde que haja vontade política e investimento.

Aldeias isoladas exigem soluções adaptadas

Nem todas as aldeias estão próximas das cidades. Na aldeia Teko’a Yvyty Porã (Serra Bonita), em Maquiné, o projeto precisou se adaptar aos desafios logísticos. A região, que abrange três municípios, localizada a 780 metros de altitude e que se estende mais 2.300 hectares, só é ível por estradas de terras, o que dificulta o transporte de equipamentos em dias chuvosos.

Para lidar com essa realidade, foi instalada uma estação portátil de energia solar, pensada para baixa manutenção e alta durabilidade, ideal para locais remotos. Apesar dos desafios, o isolamento também tem um lado positivo: fortalece a preservação dos rituais e da cultura Guarani.

Aldeia indígena recebe energia elétrica por meio da solar

Manutenção e capacitação: desafios futuros

A manutenção dos sistemas varia de acordo com o modelo instalado. Na aldeia de Teko’a Anhetenguá, o sistema fotovoltaico exige manutenções periódicas, como o recente caso de um alarme disparado por baixa captação de energia no inverno.O problema foi resolvido com a poda de árvores para melhorar a entrada de radiação solar.

De acordo com Denise, os próprios Guaranis ainda não demonstraram interesse em aprender a parte elétrica do sistema, e as manutenções são feitas pelos técnicos do projeto. Porém, a capacitação técnica de indígenas é vista como uma possibilidade futura, especialmente se houver ampliação do programa.

Visão de futuro

A meta do projeto é ambiciosa para expandir o modelo para outras regiões e etnias indígenas do Brasil. Até agora, o IECAM já atuou em mais de 20 aldeias e reuniu representantes da Nação Guarani do Brasil e aldeias da Argentina, Paraguai e Uruguai em encontros internacionais. Apesar do reconhecimento, o principal desafio segue sendo o financiamento. “A Petrobras tem sido fundamental com o patrocínio. Mas, para ampliar o impacto, é preciso mais apoio e mais investimento”, afirmou a coordenadora.

Equipe do projeto

A equipe técnica – formada por agrônomos, biólogos, cartógrafo, engenheiro ambiental e arquiteto – conta com profissionais experientes no trabalho com comunidades indígenas, atuando sempre com apoio de agentes Guarani em cada aldeia. “Toda nossa equipe tem experiência com a cultura indígena, mas, quando há necessidade de um ou outro profissional se juntar a nós, há um processo de integração, uma preparação antes de entrar em campo”, relatou a presidente do IECAM.

A entrada de novos técnicos no projeto a por um processo de preparação, que inclui a apresentação ao cacique e à comunidade, além da observação de um código de ética construído com as próprias aldeias. As atividades seguem uma metodologia de escuta e construção coletiva, respeitando o tempo e os dons individuais dos indígenas para atividades como o viveirismo, compostagem e mapeamento.

A metodologia é colocada em prática por meio de reuniões, oficinas, trilhas, mutirões e encontros. Em seguida, os Guaranis se dividem em grupos – lideranças, jovens e mulheres – para debater internamente. Depois, todos se reúnem novamente para compartilhar demandas e construir, de forma conjunta, as soluções.

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Foto de Caique Amorim
Caique Amorim
Estudante de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Tenho experiência na produção de matérias jornalísticas.

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